A dosagem do PSA, Antígeno Prostático Específico (do inglês, Prostate
Specific Antigen), tem sido utilizada como um rastreamento inicial na pesquisa
do câncer de próstata. Trata-se de uma enzima produzida pelas células da
próstata e que pode circular livremente, fração livre ou ligada a uma proteína.
É infantil crer que uma boa prática médica use um dado isolado para indicar uma
terapia radical com tantos efeitos adversos. O próprio PSA deve ser analisado
em seus diversos aspectos, ou seja, sua densidade, suas relações, sua
velocidade e complementar a avaliação com dados clínicos, familiares e outros
métodos de investigação, principalmente a biópsia
de próstata guiada por ultra-som, realizada em nossa clínica com sedação ou bloqueio
local, rápida, indolor e sem morbidade. A condenação do PSA de forma genérica,
como foi feito nos EUA, estreita o horizonte que o profissional deve ter para
nortear suas decisões.
Lembrei, então, que ainda nos bancos da faculdade, frequentava uma
reunião semanal, sob o título “Casos de Revista”. A ideia era não apenas
absorver as novidades, que à época, ainda sem a internet, já era difícil
acompanhar, mas principalmente, acostumar-se à prática de uma visão mais
detalhista, extraindo de artigos o que poderia haver de verdade ou então apontar
suas falhas.
Tentando resgatar a capacidade crítica que existia naqueles encontros, lembrei que os princípios da USPSTF são dirigidos ao sistema de saúde dos EUA, visando otimizar custo versus benefício. Isso significa que são feitos um milhão de exames para salvar “apenas” uns poucos milhares de pacientes.
Tentando resgatar a capacidade crítica que existia naqueles encontros, lembrei que os princípios da USPSTF são dirigidos ao sistema de saúde dos EUA, visando otimizar custo versus benefício. Isso significa que são feitos um milhão de exames para salvar “apenas” uns poucos milhares de pacientes.
Entretanto, vale lembrar que nem tudo que é bom para os EUA é bom para o
Brasil, para a Ásia ou para os países europeus. Se em grandes centros, os carros-chefes
dos índices de mortalidade são o câncer de mama e de próstata, as doenças do
coração (coronariopatias) e os acidentes de trânsito, o mesmo não se aplica a
uma pequena cidade do interior do Mato Grosso, por exemplo, onde complicações
do estresse ou de acidentes de trânsito não são a principal causa de morte de
seus pacatos cidadãos. Quanto ao câncer, é válido destacar que em várias
regiões brasileiras a alta taxa de desinformação, precária assistência básica
de saúde e hábitos ruins de higiene desviam o foco da mama para o colo do
útero. Em certas áreas do Brasil, o câncer de colo uterino encabeça as causas
de morte entre as mulheres.
Considerando esta realidade – tão diferente da realidade americana – até
onde ir na busca por um possível diagnóstico, qual o limite entre neurotizar e
prevenir com bom senso?
Se um turista, ao fazer uma escala no Rio de Janeiro em um dia nublado,
escrever em seu diário que a cidade é fria, escura e chuvosa, estará fazendo
eco com aqueles que, baseados em um exame isolado determinam uma conduta
universal frente a um caso complexo, mostrando uma falta de habilidade médica,
para dizer o mínimo, uma visão pobre de um horizonte pontual.
É de bom alvitre ouvir todas as vozes, mas tenhamos o dom de distinguir
os gritos histéricos das vozes de bom senso. Converse sempre com seu médico,
sua família e com sua consciência.