Há poucos dias recebi uma
mensagem eletrônica de um amigo também judeu que como tal, se dizia envergonhado por essa triste passagem da história, intitulada Israel e o Massacre de Sabra e Chalita - Coletânea de Rosana
Bond, sobre o qual tecerei alguns comentários. Queria começar
dizendo..., mas são tantas as questões que não sei por onde dar os primeiros
passos. Portanto, se tiver um pouco fora de ordem, consideremos a complexidade
das questões.
Sem querer advogar em favor de atos inconcebíveis, não devemos
perder o foco de nossa crítica e nem acatar a desculpa esfarrapada de que não foi por mal. Se assim se deu, foi
no mínimo por falta do bem.
O massacre de Sabra & Shatila
(não foi o pobre do Chalita, de quem discordo e a quem respeito) é um exemplo
de lacuna na integridade moral do homem. Segundo fontes israelenses e
palestinas, o crime foi perpetrado pelos maronitas, inimigos viscerais dos
palestinos, enquanto o governo de Israel, responsável pela segurança da área,
fingiu que nada via.
À medida que os cidadãos
israelenses, oficiais e praças, membros da tropa responsável pela segurança das
aldeias foram se dando conta do que se passava, em nome de uma dignidade que
ainda cultivavam em si, insurgiram-se contra seus chefes e entraram na
comunidade para exercer seu papel de policial, mas já era tarde. O mal
triunfara naquela fatídica madrugada.
Não se pode ter como base um
suposto direito exclusivo dos palestinos àquelas terras em função da sua
presença. Se assim o for, prevalece o fato de os judeus estarem lá desde 1000 AC, enquanto os árabes
só chegaram no século VII da era comum. A sua presença foi intermitente e nunca
como uma entidade nacional, enquanto os judeus estão ali de forma ininterrupta
por 3.000 anos, embora minoritários durante a dispersão.
Não faltam relatos sobre a aridez
e o vazio daquelas terras que enquanto possessão jordaniana não presenciou
nenhuma rebeldia dos palestinos, até o ano de 1970. Hussein havia oferecido
cidadania jordaniana aos palestinos, com todos os direitos e custos que isso
representava e como resposta teve a sublevação em setembro daquele ano.
Queriam esses palestinos a
renúncia do rei. A resposta irada do rei foi tão brutal que não discriminou
entre homens, mulheres e crianças ao ceifar milhares de vidas. Um dos frutos
desse levante foi a criação do grupo terrorista
Setembro Negro, que
voltou suas baterias contra Israel. Também os cruzados antes de sair à caça dos
muçulmanos aqueciam-se matando judeus.
Fala-se em mandato britânico como
se fora uma dádiva dos céus. A Inglaterra alí chegou por meio das armas. O
retorno à
“terra prometida” sempre
foi uma tônica dos judeus nesses dois mil anos de diáspora. Oravam voltados
para Jerusalem e despediam-se no Pessach com a promessa
– Le shaná baá be Ierushalaim – Ano que vem em Jerusalém, o centro
ideológico e político desse povo, que sempre entendeu sua ausência como uma
anomalia a ser corrigida.
Falar em percentual de divisão é
uma discussão estéril. Israel tem 30% de árabes como cidadãos, inclusive com
assento no parlamento. Ninguém mandou os judeus à Palestina, nome que, aliás,
foi uma criação dos romanos, não satisfeitos em expulsar os judeus de suas
terras ainda deram a ela o nome de Philistina, em homenagem a seus inimigos
históricos. Seria algo como a Inglaterra esticar sua aventura nas Malvinas,
destronar o Brasil e dar a essa terra o nome de Argenta, sem qualquer alusão
aos políticos brasilenhos que só pensam “en la plata”.
Foi uma conquista e um retorno à
casa. A compra de terrenos foi absolutamente legal. Segundo as regras da
modernidade, trocou-se dinheiro por terra. Cerca de 600 mil judeus viviam em
países árabes em terras por eles adquiridas legalmente por várias gerações e
nunca se tentou um levante judeu contra o regime do país em que moravam, nem
mesmo quando foram expulsos com uma mão na frente e outra atrás, por questões
meramente filosóficas de seus governos.
Frases de efeito não vestem o
errado de certo. Citações de governantes ou escribas não dão autenticidade a
problemas complexos que torneiam a história da humanidade. Falar em atos de
terrorismo de parte a parte é passar por cima de questões básicas e fundamentais,
quais sejam, a incapacidade do ser humano de resolver suas querelas por meio do
diálogo. Uma vez rompida a relação diplomática, trata-se de forma e nível da
violência. Esta se vai estratificando e galgando níveis inconcebíveis por uma
mente sã.
Antes de questionar a degola de
inocentes, a urina sobre corpos de guerreiros tombados em ação, a rajada em
pente fino entregando à morte populações de civis e tantas outras formas de
barbaridades, devemos nos bater com toda nossa energia contra a truculência como
opção. Condenar um soldado que assassina indiscriminadamente civis distantes
dos campos de batalha sem apontar para os responsáveis por colocá-lo em
ambiente hostil por anos e não esperar que enxergue violência na simples figura
de uma dona de casa comprando frutas na feira, ultrapassa a linha da
ingenuidade. Trata-se do cultivo da maldade em uma de suas expressões mais cruéis.
Não se pode invocar a violência que vêm
sofrendo todo um povo para deslocar uma nação constituída de seu lugar. É
cômodo culpar o Holocausto pela criação de Israel e depois negá-lo, desta forma
negando também o direito de existência desse país.
Algumas das manchetes trazidas
pelo autor da mensagem são questionáveis, outras contestáveis e uma porção
delas já circulam pela área da fantasia.
Sou brasileiro e nem por isso
envergonho-me de sê-lo por que não cerro fileiras com os da sarna e canalheiros
e embora com o corpo um pouco abatido, ainda carrego no peito a rebeldia dos
meus 20 anos e o grito na garganta de que o povo unido jamais será vencido.
Da mesma forma orgulha-me ser
judeu por fazer parte de um grupo que vem contribuindo para a evolução técnica
da humanidade, que não cedeu às perseguições de 3000 anos, que ainda ri e anda
de cabeça erguida e que se insurge contra o mal, esteja ele onde estiver.
Mas é claro, tudo isso é apenas
minha opinião, baseada nos relatos colhidos na imprensa e nos contos que o
mundo conta.
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