Para não quebrar
a rotina, assistiam ao jornal da TV no já velho sofá da sala. Ficavam
fisicamente próximos e naquele começo de noite pouco ou quase nada se falavam. O que a princípio podia parecer distância, era
em verdade uma intimidade e aproximação que dispensava as palavras. Mesmo no
silêncio ele sabia quando ela tinha sede e não passava despercebido nela que
havia preocupação no coração dele. Era mais que comum um pensar em alguma coisa
e o outro verbalizar. O que havia sido criado naquela relação era tão forte e
profundo que por vezes suas almas mal se distinguiam, embora nunca tenham
perdido sua individualidade o que mais intensa tornava sua ligação.
Foi um daqueles momentos
em que nos perdemos em uma elação interminável de ideias quando um pensamento
puxa outro, outro e outro e acabamos dez anos luz do início. Assim a imagem da
moça do tempo lhe lembrou da previsão de chuva antes da viagem para Paris ano
passado, na véspera da final de Roland Garros que o reporta a desistência de
Nadal, que não vai jogar por problemas no joelho, assim como a empregada que
não foi trabalhar porque o filho foi operado e tem a louça esperando na pia,
que vai cair no seu colo porque ela também está em fase de recuperação de
cirurgia e precisa ser cuidada como uma rainha porque ele a ama e ... se
percebeu acariciando sua mão sendo correspondido com uma dança de dedos
entrelaçados ainda em silêncio, como faziam desde sempre.
Ela se chega um
pouco mais permitindo mais carícias enquanto deita a cabeça em seu ombro. Seus
corações se aceleram e viajam no tempo de volta aos primeiros encontros, o que
os torna um pouco mais jovens sem perder a experiência dos anos. Juntos já haviam
navegado muito e de repente se viram explorando outra vez os mais recônditos
igarapés um do outro e o sofá da sala foi palco da mais linda e pura expressão
de amor explícito.
Ainda colados, a
respiração ofegante recuperando-se dos excessos, permaneceram assim por alguns
minutos quando ela não aguenta e lembra que precisavam de umas mudanças na
casa. Ele também não resiste e consente: - faça o que achar necessário, só não
tire o sofá da sala.
Ela se aconchega
um pouquinho mais em uma anuência silenciosa e com um doce sorriso em seus
rostos adormecem agarrados.
que lindo, como é bom estar em paz e poder curtir essa coisas, um abraço. Claudia
ResponderExcluirQue admiravel sequencia de acontecimentos !!! Gostei muito, Arnaldo !!!
ResponderExcluirUm abraco, Lea.
Muito lega! Gostei muito da idéia do sofá como catalisador do estreitamento deste relacionamento, onde cada um contextualiza as informações ali recebidas/vividas em uma gama de pensamentos distintos que, ao final, os remetem à aproximação pela memória afetivo-amorosa, crescendo mais ainda em amor e afeto, graças ao velho sofá!! Parabéns pela sacada!
ResponderExcluirAbraços! Gustavo Salgado