quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O Louco

 Capítulo primeiro

Diz-se que o lado bom da doença de Alzheimer é conhecer gente nova todos os dias. Um humor negro sobre a perda da capacidade do paciente de armazenar informação. Com isso se explica e se desculpa seus constantes deslizes sociais. Assim é o louco. Como não é, digamos, dono de seus atos, tudo pode ser explicado...aos outros, não ao próprio, que é louco! Êle nada sabe, seu raciocínio é um labirinto, sua lógica esbarra no instinto da sobrevivência e seu comportamento um contra-senso. Por mais que se queira explicar êle não entende, portanto para que se dar ao trabalho.

Em todas nossas conversas meus argumentos são de pronto anulados com a fatídica expressão “- Você não entende!” E precisa diria eu. Não basta o sentir? Não é suficiente ver? E o tato por onde anda? O olfato, dele o que terá sido feito? Quantos sentidos são necessários para entender? Vivo perdido naquele labirinto em conflito, cultivando minha insanidade e o justo egoísmo dos que apenas não entendem. E assim se passam as horas, os dias, semanas, meses e anos de nossas vidas, eu sem entender aquilo que vc não explica, procurando decifrar para não ser devorado, buscando uma saída, fugindo dos minotauros do dia a dia e me perguntando se algum dia estaremos sentados com os olhos regando o infinito e querendo saber o que não deu certo na nossa história. Coisa de louco? Sei não! Canta a canção que diz mais louco quem não é feliz então para que entender, sejamos apenas felizes e fim do primeiro capítulo.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Orgulho Perdido



Gostaria de encher o peito e gritar que tenho orgulho de ser brasileiro. Assim com eu, milhares de outros sentem o mesmo pesar. Vivemos como retirantes em terra de ninguém. Um lugar sem lei onde o que vale é levar vantagem em tudo. A onda de violência e criminalidade se espalha por todo país como um vírus mortal.

Ou a reserva moral da nação toma a lei e a ordem em suas mãos ou teremos instaurado o caos em nosso meio, de tal maneira que em breve estaremos vivendo entrincheirados e em guetos.

Com muito maior desrespeito que um salário vergonhoso, alguns delegados estacionam seus automóveis importados e incompatíveis com seus ganhos, em frente ao prédio da lei onde trabalham, indiferentes à suspeição e certos do poder absoluto.

É fundamental que os segmentos da sociedade se associem nessa luta, de forma a restabelecer os padrões éticos e morais que constroem uma grande nação e que outra vez, cada um de nós possa voltar a sentir orgulho de ser brasileiro.


Nota: Publicado em 23/07/2004. Mudou!?

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Iom Ha Shoá - Dia da Memória do Holocausto


Quando passamos por momentos difíceis, olhamos para nossa história. Não para nossa caminhada individual, mas para a historia do nosso povo. 

Pelo momento que passamos atualmente, me vi no desejo de me expressar de forma mais forte e compartilhar com vocês o que estou sentindo. É sem dúvidas um dia diferente. 

Mesmo que ensolarado, mais cinza. Hoje, lembramos das vítimas de um dos períodos mais sombrios da história da humanidade. 

Lembramos, pois o povo judeu sobreviveu. Sobreviveu e resistiu. Resistiu quem morreu nos campos. Resistiu quem fugiu. Resistiu quem lutou. Resistiu quem chorou. Resistiu quem sobreviveu. Resistiu e persistiu. 

Infelizmente, os preconceitos também persistiram à queda do sistema. Há 75 anos, o nazismo ruiu, mas não levou consigo o ódio e o preconceito. Contudo, persistiu também a luta. A luta contra a perseguição. A luta contra a opressão. A luta por igualdade e direitos. A luta pela liberdade. 

Hoje é o dia oficial de relembrarmos o que ocorreu, mas todo dia é dia de lembrarmos da essência do dia de hoje, para movermos assim a batalha constante contra as injustiças. Pela memória de todas as vítimas do holocausto e por todos que sofrem com os preconceitos - que ainda estão enraizados na nossa sociedade - que levantamos e lutamos. Levantamos e resistimos. 

Como pelos trilhos de Auschwitz já chegaram mortos e hoje mostramos que ainda há vida, vamos mostrar que não é apenas vida, mas a vida que vai resistir.



Texto de Ilana Lewkovitch Welikson