Conta-se que em uma ocasião já perdida no tempo, duas
caravanas encontraram-se a beira de um rio, cada qual em seu destino para
negociar suas mercadorias. Cheios de sonhos e felizes, sentaram-se em torno do
fogo, beberam moderadamente, riram e tornaram-se bons e velhos amigos. Antes
de se recolherem, um deles chamou seu serviçal e lhe ordenou que gravasse em
uma grande pedra que naquela data, Omar e Samir tiveram a felicidade de se
encontrar e selar uma fraternal amizade e que isso era razão de enorme
regozijo.
Retornando de seus negócios, encontraram-se de novo junto ao
mesmo rio e também agora riam, contavam histórias e beberam demais da conta até
que Samir já inebriado pelo álcool e em meio a festa, se desentende com Omar e
lhe esbofeteia a face.
Imediatamente esse chama o mesmo serviçal e lhe ordena escrever
na areia que naquela data, por um banal motivo, tocados pelo excesso de vinho,
seu fraternal amigo o agredira. Sem entender, Samir lhe questiona o porque de
agora registrar na areia. “- que nossa amizade perdure o tempo que durar a
gravação na pedra e que nosso momento de tristeza dure o tanto tempo que essas
palavras permanecerem na areia.”
Sob uma ótica perversa e egoísta, não raro antigos amigos são
alvos de críticas por não corresponderem mais ao que já foram um dia. Se
valoriza mais a nossa saudade do que a felicidade do outro. A amizade
verdadeira é eterna. Há poucos anos assisti a uma final de tênis entre duas
grandes amigas e quando a campeã foi questionada em como iria gastar o dinheiro
do prêmio, respondeu que ainda iria decidir junto com sua “irmã”.