terça-feira, 30 de agosto de 2016

Na Pedra e na Areia

Conta-se que em uma ocasião já perdida no tempo, duas caravanas encontraram-se a beira de um rio, cada qual em seu destino para negociar suas mercadorias. Cheios de sonhos e felizes, sentaram-se em torno do fogo, beberam moderadamente, riram e tornaram-se bons e velhos amigos. Antes de se recolherem, um deles chamou seu serviçal e lhe ordenou que gravasse em uma grande pedra que naquela data, Omar e Samir tiveram a felicidade de se encontrar e selar uma fraternal amizade e que isso era razão de enorme regozijo.

Retornando de seus negócios, encontraram-se de novo junto ao mesmo rio e também agora riam, contavam histórias e beberam demais da conta até que Samir já inebriado pelo álcool e em meio a festa, se desentende com Omar e lhe esbofeteia a face.

Imediatamente esse chama o mesmo serviçal e lhe ordena escrever na areia que naquela data, por um banal motivo, tocados pelo excesso de vinho, seu fraternal amigo o agredira. Sem entender, Samir lhe questiona o porque de agora registrar na areia. “- que nossa amizade perdure o tempo que durar a gravação na pedra e que nosso momento de tristeza dure o tanto tempo que essas palavras permanecerem na areia.”

Sob uma ótica perversa e egoísta, não raro antigos amigos são alvos de críticas por não corresponderem mais ao que já foram um dia. Se valoriza mais a nossa saudade do que a felicidade do outro. A amizade verdadeira é eterna. Há poucos anos assisti a uma final de tênis entre duas grandes amigas e quando a campeã foi questionada em como iria gastar o dinheiro do prêmio, respondeu que ainda iria decidir junto com sua “irmã”.

Nosso amigo não pode ser uma infinita fonte de benesses nas suas mais variadas formas. Mesmo porque também ele deve estar sentindo o mesmo que nós. Temos que priorizar as boas lembranças escritas na pedra. Essas são a verdade, a areia é apenas um sonho ruim.