Embora preso a uma rotina de vida em
que era comum sacrificar seus interesses em prol de outrem, agonizava dentro
dele o refém que embalara por quase meio século. Já verbalizava a palavra “não”
com uma estranha satisfação de vitória. Estava gostando! A compreensão de que o
amor incondicional é na verdade um suicídio espiritual o colocou no caminho da
troca desse prazer, cujo feedback positivo o alimentava com a vida - literalmente
com vida.
Não tinha mais vários problemas, mas
apenas percalços. Como não existe essa história de virar a página e fazer uma
nova vida, ainda trazia no lombo a carga do passado. O que acontece hoje é o
somatório do que fizemos até então. Imaginou pretérito o tempo de
questionamentos. O que faria de agora em diante é que iria ditar seu futuro e
ainda que não pudesse apagar a escrita de sua vida, nesse momento acreditou que
morria o refém.
Durante algum tempo seu sorriso era farto,
sua respiração fácil, seu passo firme e a visão clara. Abriu mão de todo tipo
de razões para abraçar apenas a razão da lógica. Não contava porém que para seus
pares sua alforria era inadmissível. Como poderia não estar disponível 30 horas
por dia?
Esse conflito fez seus neurônios baterem
pino, as juntas pareceram se desarticular e o coração sambar fora de compasso.
Teve a paz por curto tempo e levou consigo o refém que nunca conseguiu
exorcizar.
Não presto aqui as últimas
homenagens, pelo contrário, lhe renderei tributo por todos os dias do resto de
minha vida. Como causa mortis diria apenas: um homem bom.
Nesse novo ano judaico que se inicia,
deixo cantada uma mensagem gravada pelo coral Kol Haneshama, onde se diz:
Que seja da tua vontade Nosso Deus
E Deus de nossos ancestrais
Que se renove para nós
Um ano bom e doce
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