Vez por outra assistimos pasmos a fenômenos que a natureza
nos apresenta como quem quer mostrar o quanto somos frageis e ignaros sobre as
nuances de seus caprichos. Nos invade com as águas dos oceanos, leva milhares
de roedores a se lançarem no mar ou joga baleias nas areias para encontrarem
seu fim. Diria um incauto que são misteriosos os caminhos do senhor! Bota
mistério nisso. Com tanto poder precisava destruir daquele jeito as cidades de
Sodoma e Gomorra? Aquela formiguinha que passou sua existência protegendo a
rainha, aquele potrinho que acabara de nascer, os porquinhos que inocentemente
chafurdavam na lama, foram todos vítimas inocentes de um ataque de fúria
sulfúrica de seu criador. Não poderia enfartar os infiéis? Tornar diabéticos os
glutões e servi-los com gangrenas? Tenho que concordar, são realmente
misteriosos seus caminhos.
Tudo porque a humanidade da época inaugurou uma maneira
tropical de ser. Os gregos rechearam os textos sobre seus deuses com os mais
Froideanos e Nelson Rodrigueanos casos de amor. Minos e sua família eram um
poço de vergonha. Gilgamesh, o rei semi deus sumeriano de Uruk (atual Iraque),
citado em poema de quase 5.000 anos tem uma história conturbada com a deusa
Ishtar envolvendo inclusive a morte de uma de suas crias, simbolizada por um
touro (ish = esposa em hebraico), uma relação no mínimo estranha com seu
inseparável (até a morte) amigo Enkidu e acaba buscando apoio em Utnapishtim
(ou Noé ?) herói sobrevivente de um dilúvio que tem a planta da imortalidade
roubada por uma serpente.
Solta a imaginação irmão!
O próprio rei Davi, tremendo mau caráter e algoz de Golias inaugurou
o jeito máfia de ser, fazendo acordo com os inimigos de seu amigo, que não sem um
bom motivo, como mostrou a história, sofria de síndrome persecutória. Esse rei,
ungido com a benção do divino enviava seus melhores soldados para a frente de
batalha a fim de dar apoio e calor humano às suas mulheres, hábito adotado por
Napoleão anos mais tarde. Pois é, essas coisas sempre aconteceram e mereceriam
do Pai um entendimento mais divino da alma que Ele colocou em cada humano de sua
obra. Mas foi tudo feito sempre com as melhores da intenções.
Também não foi por mal que aviões da força aérea dos EUA
bombardearam uma caravana de civis fugindo dos horrores da guerra da Bósnia
Herzegovina. A intenção era de proteger. Seguindo a ladainha do “não
foi por mal” é que se desvia verba de saúde e educação, aprisionando
milhares dos nossos na teia do anafalbetismo e entregando outros tantos nas
mãos de Tânatus.
Com a intenção de voltar rapidinho para seus afazeres,
motoristas estacionam nas vagas de idosos e deficientes. Claro que se danem
velhinhos e portadores de deficiência ainda que só por um minutinho, porque não
foi por mal.
A falta de um olhar cuidadoso para nosso vizinho é uma
lacuna presente na alma de homens de bem.
Muitas vezes fazemos coisas em nosso favor, sem se aperceber
que isso terá um custo para outros e é esse o cuidado que temos que ter nas
mais inocentes atitudes. Podemos não tê-las feito por mal, mas se as fizemos
foi por certo pela falta do bem.