quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O Louco

 Capítulo primeiro

Diz-se que o lado bom da doença de Alzheimer é conhecer gente nova todos os dias. Um humor negro sobre a perda da capacidade do paciente de armazenar informação. Com isso se explica e se desculpa seus constantes deslizes sociais. Assim é o louco. Como não é, digamos, dono de seus atos, tudo pode ser explicado...aos outros, não ao próprio, que é louco! Êle nada sabe, seu raciocínio é um labirinto, sua lógica esbarra no instinto da sobrevivência e seu comportamento um contra-senso. Por mais que se queira explicar êle não entende, portanto para que se dar ao trabalho.

Em todas nossas conversas meus argumentos são de pronto anulados com a fatídica expressão “- Você não entende!” E precisa diria eu. Não basta o sentir? Não é suficiente ver? E o tato por onde anda? O olfato, dele o que terá sido feito? Quantos sentidos são necessários para entender? Vivo perdido naquele labirinto em conflito, cultivando minha insanidade e o justo egoísmo dos que apenas não entendem. E assim se passam as horas, os dias, semanas, meses e anos de nossas vidas, eu sem entender aquilo que vc não explica, procurando decifrar para não ser devorado, buscando uma saída, fugindo dos minotauros do dia a dia e me perguntando se algum dia estaremos sentados com os olhos regando o infinito e querendo saber o que não deu certo na nossa história. Coisa de louco? Sei não! Canta a canção que diz mais louco quem não é feliz então para que entender, sejamos apenas felizes e fim do primeiro capítulo.

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