Não foram poucas
as vezes que me senti amarrado, trancado, sem espaço, parecia-me impossível
evoluir e faltava-me vontade de lutar. A vida parecia ter dado um nó. Isso aconteceu
nos treinos de Jiu Jitsu, o mesmo ocorreu na minha vida profissional e não foi
diferente nas minhas relações pessoais.
Existem pessoas
que nessas ocasiões provocam a vida e desafiam o destino. Meu pai sugeria
sempre essa postura arrogante diante dos problemas com os quais a vida nos
presenteia. Aprendi o ensinamento e acreditei ser um entre poucos, mas eis que
os céus colocaram em meu caminho uma menina que absorveu essa aula mais do que
eu. Quando penso que estou sendo audacioso, olho para meu lado e vejo minha Lia
alguns passos adiante.
Abraão, que a
história fez patriarca, era um beduíno dado a ouvir vozes. Não as de Bilac, que
por amar ouvia estrelas, mas vozes com razões as mais diversas. Algumas até que
eram saudáveis enquanto outras inconfessáveis. Dando ouvido a esses conselhos
vindos do etéreo, uma vez quase mata o próprio filho, no caso salvo por uma
visão, manifestação avançada de sua esquizofrenia acredito eu. Em outra, sempre
aconselhado por sons que ninguém mais ouvia, assumiu a paternidade de um
rebento, fruto de uma relação extraconjugal com uma doméstica que trabalhava
pela comida (alimento, bem entendido) e que dá o que falar até os dias de hoje.
Coisas de família.
Até que entendo
um pouco, pois assim como eu, Abraão passou uma fase em que fechava os olhos e
não repousava, quando os abria, cansado, já não enxergava o que via. O ar
entrava e saia de seus pulmões, mas não respirava. Nem sua própria voz mais
ouvia e o que dizia ninguém escutava. O sangue corria leniente em suas veias, a
secura das lágrimas embotava sua mente e nem mesmo a luz do sol lhe deixava
contente.
Estávamos mortos
em vida!
Foi nesse
momento de nossa existência que, cada um no seu tempo, tivemos ambos a mesma
conduta, eu segui o que meu pai sugeria e ele o que disse a voz: “- Lech lechá”
(leia-se lerr lerrá), uma expressão do dialeto da época, antigo hebraico, que
traduzida seria algo como “- VAI NESSA”.
Não olha para trás, larga seu conforto, seu jardim, abandona sua comodidade e
seus pertences, a terra onde nasceu e foi criado, tudo que conheces e com que
tens intimidade e – LECH LECHÁ!
Ele viria a se
tornar o patriarca de grandes nações e eu mais humilde, conheceria a felicidade
ao lado de minha Lia.
Há momentos em
nossa vida em que precisamos ouvir uma voz que pode parecer esquizoide, mas
como já esgotamos quase tudo dentro de nós, devemos provocar a vida, desafiar o
destino, debochar do perigo e ... LECH LECHÁ!
Lindo o seu texto, Arnaldo, cheio de sabedoria milenar e gratidão pelo momento presente, ao lado da sua Lia. Desconfio que algum dia você ainda vai virar rabino! Beijos,
ResponderExcluirMonipin
Arnaldo, que gostoso ler o que você escreve!! Você tem o dom de um mágico contador de histórias. Encanta a quem ouve. E o maior encantamento é saber que tudo vem direto do seu coração, verdadeiro.
ResponderExcluirBeijo! E vamos nós!!!
Grande Arnaldo, esta claro que voce encontrou uma formula eficiente de desatar e superar os nós do jiu-jitsu e os da vida! Shalom!
ResponderExcluirArnaldo,você é um poeta,um escritor e o seu combustível,o Amor!
ResponderExcluirLindo texto,escorpião!
Bjs
Popô
Grande Dr.Arnando, um lindo texto, adorei!!
ResponderExcluirBjs
Rafa.
Querido Arnaldo
ResponderExcluirFoi uma grata surpresa ler teus escritos... Um lado que eu desconhecia.
Só não foi maior a surpresa pois esta veia literária tem sido uma ocorrencia não incomum em grandes médicos como Pedro Nava e outros entre os quais agora te incluo.
Um grande abraço do amigo de muitos anos
Henrique Cintra
Olá Arnaldo! lindo texto
ResponderExcluirBoa estadia em Búzios
C
Que texto lindo e motivador, vou ficar no aguardo da sua volta a escrita. =)
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