Um
dileto amigo médico lembrou outro dia, palavras sérias e compenetradas da
esposa de um paciente a seu marido, que após ter se auto medicado, não se
sentia nada bem – “... a automedicação leva à morte!”
Passado
o tempo e ainda que possa parecer jocosa, essa alegação reveste-se de seriedade
quando nos deparamos com uma assustadora estatística de pessoas que não
satisfeitas em se “consultar” com o balconista da farmácia, que nem técnico é,
ouvem amigos, estranhos, pesquisam na internet, se prendem a mensagens
alarmistas divulgadas na rede e muitas vezes seguem um instinto baseado em
histórias que ouviam de seus avôs.
Ainda
garoto, após assistir a um mecânico consertar meu carro e claro, com a
arrogância e a petulância da juventude, aventurei-me a fazer o mesmo. Era uma
época em que se regulava um motor como se afina um violão. Era preciso ter
ouvido, escutar o motor, sentir sua “respiração”, conhecer o equipamento e
basicamente saber o que está fazendo. Para resumir, não seria surpresa o final
dessa história acabar na oficina.
Constantemente
sou questionado por pacientes e amigos sobre uma matéria publicada em uma
imprensa dita de credibilidade ou pescadas nas ondas etéreas da internet.
Em
um desses artigos, um curioso dissecava as nefastas conseqüências da biópsia de
próstata guiada pela ultra-sonografia. Como uma metralhadora giratória lançava
ameaças de todos os tipos cujas causas teriam origem em um procedimento
rotineiramente realizado a nível ambulatorial pelo mundo afora, já por dezenas
de anos. Eu mesmo tenho uma casuística de biópsias de mama, próstata e tireóide
que ultrapassa a casa de vários milhares, com mortalidade zero e morbidade
medida em fração de uma unidade.
Por
mais que eu tentasse fazer alguma associação da biópsia da próstata com
insuficiência cardíaca congestiva (belo nome), não achava o caminho e me perdia
nas tramas do interlocutor, tão alucinantes que eram. Tentei extrapolar para o
câncer de mama que deve obedecer aos mesmos critérios médicos de decisão, mas
em vão.
Há
que se ter uma postura equilibrada, bom senso, conhecimento de causa para não
tomar decisões de ouvido, não afinar todos pacientes sob um mesmo diapasão, não
decidir por um procedimento com um horizonte pontual e também não perder o
“timing”, por que fatalmente acabaremos com nossos pacientes na oficina do
corpo.
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