sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um Largo Sorriso

Walhalla antes de ser o nome de um templo na Alemanha, muito apreciado pelo anticristo Hitler e que ironicamente guarda memórias de famosos judeus, era o nome do jardim paradisíaco para onde eram levadas as almas dos guerreiros vikings, tombados com honra e valentia em suas batalhas.

Seus espíritos eram resgatados nos campos de guerra por divindades de extraordinária beleza, com suas batas esvoaçantes e seus cachos sobre os ombros. Pareciam flutuar quando caminhavam e para o bem da comunidade, cada viking tinha a sua.

Houve vários momentos distintos em minha vida e de cada um guardo peculiaridades.

Eu me envolvera na importação de um equipamento de vôo que era um parapente motorizado, com um assento que podia levar até duas pessoas. Havia conhecido o comandante chefe das forças especiais e após um início frio, nossa amizade ganhou contornos de velhos amigos. Chefiava cerca de 200 homens que realizam missões impossíveis em qualquer parte do país. No meu conceito, pelo pouco que vi, era um grupo de loucos. Saltavam de pára-quedas e entre o céu e a terra, o que era um pesadelo para mim, eles faziam sorrindo.

Conseguimos o impossível nas repartições públicas de importação. Em uma ocasião, ele a paisana e eu de gravata, me apresentou como seu superior. O engraçadinho do funcionário gracejou:
- se você é o comandante dessa tal de forças especiais, eu sou a rainha da Inglaterra
Após apresentar seus documentos, que gelou o sangue do burocrata, retrucou
- Você ainda quer os documentos do meu chefe? Se ele mostrar, você vai ter que provar que é a rainha da Inglaterra.

Em poucos minutos saímos com os documentos em mãos. Faríamos uma apresentação do mercado brasileiro e do especial interesse do exército, para representantes da empresa produtora do equipamento, que viriam ao Brasil especificamente para esse encontro e eu precisava de um retro projetor.

Lia e eu éramos apenas um pouco mais que bons amigos. Falávamos constantemente e já contava com ela como certa nas horas incertas que eventualmente pudessem surgir. Festa no Olimpo!

Óbvio que o retroprojetor veio das mãos da Lia. Fui apanhá-lo na portaria de seu trabalho. Conversamos rapidamente, me desejou boa sorte, nos despedimos e iniciou sua caminhada de poucos metros de volta ao prédio.

Fiquei apoiado com um dos pés no estribo do carro, enquanto repousava meu queixo sobre os braços cruzados na capota, olhando aquele anjo se afastar. De repente os movimentos eram em câmara lenta. Empinada, parecia um puro sangue e eu fui tomado por um pensamento humano e másculo:

- Se ela olhar para trás é sinal que me quer. Nem eu sabia o quanto a queria.

Foram segundos eternos e angustiantes, parecia uma Valquíria levando a alma de seu guerreiro, o vento que vinha estranhamente do saguão junto com seu flutuar, balançavam sua saia e suas madeixas brincavam por sobre os ombros.

Eu não desviava meu olhar e mal piscava, quando já no topo da escada, com seu braço rente ao corpo, moveu sua mão em um zigue-zague, de “até breve” e seu rosto, voltado um pouco mais que para o lado, olhando para trás mostrou um discreto, porém INDISCUTÍVEL condescendente sorriso.

Mas eu!? Ah eu não! Em meu rosto estampou-se escancarado, para quem quisesse ver, um abusado e LARGO sorriso.

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