sexta-feira, 16 de março de 2012

Um Judeu Envergonhado

Há poucos dias recebi uma mensagem eletrônica de um amigo também judeu que como tal, se dizia envergonhado por essa triste passagem da história, intitulada Israel e o Massacre de Sabra e Chalita - Coletânea de Rosana Bond, sobre o qual tecerei alguns comentários. Queria começar dizendo..., mas são tantas as questões que não sei por onde dar os primeiros passos. Portanto, se tiver um pouco fora de ordem, consideremos a complexidade das questões.

Sem querer advogar em favor de atos inconcebíveis, não devemos perder o foco de nossa crítica e nem acatar a desculpa esfarrapada de que não foi por mal. Se assim se deu, foi no mínimo por falta do bem.

O massacre de Sabra & Shatila (não foi o pobre do Chalita, de quem discordo e a quem respeito) é um exemplo de lacuna na integridade moral do homem. Segundo fontes israelenses e palestinas, o crime foi perpetrado pelos maronitas, inimigos viscerais dos palestinos, enquanto o governo de Israel, responsável pela segurança da área, fingiu que nada via.

À medida que os cidadãos israelenses, oficiais e praças, membros da tropa responsável pela segurança das aldeias foram se dando conta do que se passava, em nome de uma dignidade que ainda cultivavam em si, insurgiram-se contra seus chefes e entraram na comunidade para exercer seu papel de policial, mas já era tarde. O mal triunfara naquela fatídica madrugada.

Não se pode ter como base um suposto direito exclusivo dos palestinos àquelas terras em função da sua presença. Se assim o for, prevalece o fato de os judeus estarem lá desde 1000 AC, enquanto os árabes só chegaram no século VII da era comum. A sua presença foi intermitente e nunca como uma entidade nacional, enquanto os judeus estão ali de forma ininterrupta por 3.000 anos, embora minoritários durante a dispersão.

Não faltam relatos sobre a aridez e o vazio daquelas terras que enquanto possessão jordaniana não presenciou nenhuma rebeldia dos palestinos, até o ano de 1970. Hussein havia oferecido cidadania jordaniana aos palestinos, com todos os direitos e custos que isso representava e como resposta teve a sublevação em setembro daquele ano.

Queriam esses palestinos a renúncia do rei. A resposta irada do rei foi tão brutal que não discriminou entre homens, mulheres e crianças ao ceifar milhares de vidas. Um dos frutos desse levante foi a criação do grupo terrorista Setembro Negro, que voltou suas baterias contra Israel. Também os cruzados antes de sair à caça dos muçulmanos aqueciam-se matando judeus.

Fala-se em mandato britânico como se fora uma dádiva dos céus. A Inglaterra alí chegou por meio das armas. O retorno à “terra prometida” sempre foi uma tônica dos judeus nesses dois mil anos de diáspora. Oravam voltados para Jerusalem e despediam-se no Pessach com a promessa – Le shaná baá be Ierushalaim – Ano que vem em Jerusalém, o centro ideológico e político desse povo, que sempre entendeu sua ausência como uma anomalia a ser corrigida.

Falar em percentual de divisão é uma discussão estéril. Israel tem 30% de árabes como cidadãos, inclusive com assento no parlamento. Ninguém mandou os judeus à Palestina, nome que, aliás, foi uma criação dos romanos, não satisfeitos em expulsar os judeus de suas terras ainda deram a ela o nome de Philistina, em homenagem a seus inimigos históricos. Seria algo como a Inglaterra esticar sua aventura nas Malvinas, destronar o Brasil e dar a essa terra o nome de Argenta, sem qualquer alusão aos políticos brasilenhos que só pensam “en la plata”.

Foi uma conquista e um retorno à casa. A compra de terrenos foi absolutamente legal. Segundo as regras da modernidade, trocou-se dinheiro por terra. Cerca de 600 mil judeus viviam em países árabes em terras por eles adquiridas legalmente por várias gerações e nunca se tentou um levante judeu contra o regime do país em que moravam, nem mesmo quando foram expulsos com uma mão na frente e outra atrás, por questões meramente filosóficas de seus governos.

Frases de efeito não vestem o errado de certo. Citações de governantes ou escribas não dão autenticidade a problemas complexos que torneiam a história da humanidade. Falar em atos de terrorismo de parte a parte é passar por cima de questões básicas e fundamentais, quais sejam, a incapacidade do ser humano de resolver suas querelas por meio do diálogo. Uma vez rompida a relação diplomática, trata-se de forma e nível da violência. Esta se vai estratificando e galgando níveis inconcebíveis por uma mente sã.

Antes de questionar a degola de inocentes, a urina sobre corpos de guerreiros tombados em ação, a rajada em pente fino entregando à morte populações de civis e tantas outras formas de barbaridades, devemos nos bater com toda nossa energia contra a truculência como opção. Condenar um soldado que assassina indiscriminadamente civis distantes dos campos de batalha sem apontar para os responsáveis por colocá-lo em ambiente hostil por anos e não esperar que enxergue violência na simples figura de uma dona de casa comprando frutas na feira, ultrapassa a linha da ingenuidade. Trata-se do cultivo da maldade em uma de suas expressões mais cruéis.

Não se pode invocar a violência que vêm sofrendo todo um povo para deslocar uma nação constituída de seu lugar. É cômodo culpar o Holocausto pela criação de Israel e depois negá-lo, desta forma negando também o direito de existência desse país.

Algumas das manchetes trazidas pelo autor da mensagem são questionáveis, outras contestáveis e uma porção delas já circulam pela área da fantasia.

Sou brasileiro e nem por isso envergonho-me de sê-lo por que não cerro fileiras com os da sarna e canalheiros e embora com o corpo um pouco abatido, ainda carrego no peito a rebeldia dos meus 20 anos e o grito na garganta de que o povo unido jamais será vencido.

Da mesma forma orgulha-me ser judeu por fazer parte de um grupo que vem contribuindo para a evolução técnica da humanidade, que não cedeu às perseguições de 3000 anos, que ainda ri e anda de cabeça erguida e que se insurge contra o mal, esteja ele onde estiver.

Mas é claro, tudo isso é apenas minha opinião, baseada nos relatos colhidos na imprensa e nos contos que o mundo conta.

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Um comentário:

  1. Meu querido Arnaldo,
    sua resposta ao Carlos e à todos que tenham lido seus comentários )do Carlos), é absolutamente fantástica! Muitos judeus com os quais convívo e também nossos filhos jamais procuraram saber o que foi o "massacre judaico de Sabra e Chatila". Nosso querido e espertíssimo colunista Arnaldo Jabor já descreveu Sabra e Chatila como a maior violencia cometida pelo povo judeu contra uma minoria racial , povo esse que tem o Holocausto nas costas... e isso na CBN para o Brasil inteiro ouvir. Portanto suas palavras transcritas da matéria de Rosa Bond deveriam ir para a nossa turma UFRJ, pois o Carlos é um ignorante do judaísmo, e me preocupa muito o seu comportamento, a ponto de me alertar sobre os seus verdadeiros interesses nessa polemica absurda, na qual ele se faz passar de coitadinho, e suas palavras no site acabam formando opinião daqueles que nunca se envolveram com a história judaica.
    Mais uma vez parabéns por esta transcrição.
    Mauricio chveid

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