domingo, 8 de janeiro de 2012

À Lia, Lechaim


Poderia começar afirmando com tranqüilidade que o torno mecânico que Deus usou na confecção da Lia é de ouro e platina, foi usado apenas uma vez e está exposto em um pedestal lá no céu, mas vou optar por contar nossa história segundo minha ótica.

Conheci a Lia por uma trapaça do destino. Depois dos tempos das vacas gordas, havia procurado a sinagoga oferecendo meus préstimos na esperança de divulgar um trabalho e quem sabe colher alguns frutos, porque não?! Meus filhos haviam ido lá, também em busca de socorro, pois atravessávamos um período de vaca nenhuma.

Trouxeram um cartão de uma Lia, que não era a que minha seria, escrito nas costas o telefone de outra Lia, que sabia o destino já era minha, posto que de ninguém mais seria.

Nosso primeiro contato já foi uma longa conversa ao telefone que se prolongou pelos dias e semanas seguintes. Ambos somos pródigos na arte da conversa e não é a toa que Ilana não deixa ninguém falar.

Partimos para os e-mails e ficamos entre esse e o telefone por 2 ou 3 meses até que em um evento para os médicos que participavam do projeto que Lia, a minha, conduzia, tivemos a oportunidade de olhar um nos olhos do outro.

- É a cara da voz! – disse minha Lia. Eu engasgado fiquei sem voz e no Olimpo os deuses se riam!

A partir de então nossa conversa já era uma rotina diária. O único dia em que não nos falamos não existiu, foi apagado do nosso calendário e registrado no diário de bordo como uma falha que jamais deveria se repetir. Até que houve o momento que não mais nos víamos...separados. A sensação era de reencontro de almas de vidas passadas, passadas como uma só vida. Nossa existência juntos era uma imposição natural como é o oxigênio.

O que eu poderia dar àquela menina que já tinha de tudo em troca de tudo que ela me dava? Alguma coisa que ninguém pode dar antes de mim? Uma coisa só nossa e que selaria aquela união?

- Vou te dar um filho - disparei em uma pizzaria.
- impossível, me falta de um lado uma trompa e do outro um ovário
- vou tentar!
- ...
- pede outro guaraná.

Lia viria perdê-lo ainda nas primeiras semanas durante uma cirurgia para retirada de um tumor no rosto. Três meses depois, pela segunda vez em sua vida atrasa a menstruação. Ilana estava decidida.

Não foram poucos os percalços em nossas vidas, mas que só apertaram o nó da nossa união. Quando achava que a morte nem era assim tão feia e até uma boa companhia, Lia foi a deusa que me deu um sopro de vida. Vestiu-me com dignidade e me cobriu de beijos. Quando as coisas apertam e parece que o tempo vai fechar, Lia tem uma brilhante idéia que é perfeita para nós dois.

Com Lia vieram bons amigos e muito mais que alegria de viver, veio uma necessidade, uma determinação para viver a vida com a plenitude que ela exige de nós.

À Lia, le chaim!

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