quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Eu podia estar roubando ...?!

Com essa gana de vencer as adversidades, de tentar passar o mais incólume possível pela crise, vemos guerreiros que não se curvam e muitas vezes cruzamos com eles adentrando o ônibus para vender balas, canetas e outras bugigangas que lhes garantam o prato à mesa.

Outro dia subiu na minha condução um simpático e risonho rapaz que começou seu discurso com uma fatídica frase: “Eu podia esta roubando, mas estou aqui vendendo balas”.

Foi aí que eu quase enfartei. Como é que é?! De onde cara pálida você tirou a idéia de que poderia estar roubando? As dificuldades que porventura atravessam nosso caminho não são um alvará para liberação do crime. A seguir essa linha de raciocínio, alguém iria também ponderar – Eu poderia estar vendendo bala, fazendo ultrassonografia, trabalhando na obra como engenheiro, exercendo com dignidade meu cargo público, mas estou roubando. Claro porque roubar segundo essa lenda que acaba de ser criada, é uma opção válida. Não! Não é.

A liberalidade com pequenos delitos foi o que levou nosso país a essa situação caótica em que a exceção passou a ser uma regra. Os ladrões discursam com os olhos arregalados, espantados e surpresos com a indignação da vítima. – Qual é o problema? Tirei sim, mas todo mundo tira.

Um ex funcionário público que galgou o mais alto cargo do país, alegou com a maior desfaçatez que de fato fazia o chamado caixa 2 porque essa era uma prática usual na política. Justo quem havia chegado lá com a promessa de moralização das instituições.

Estacionei meu carro em uma vaga comum, mas poderia tê-lo feito na vaga de um deficiente ou idoso. Devolvi o troco que a caixa me deu a mais por engano, mas poderia ter calado e ficado com uns trocados a mais. Não idiota, não poderia não!

As coisas mais simples de uma organização social, como um ônibus parar no ponto para pegar seu passageiro, ficaram perdidas nesse esgarçamento do tecido social. Essa administração, desde representantes de bairro até a presidência, passando pelas câmaras de políticos de todos os níveis, precisa passar seus 40 anos de deserto, a fim de criar uma nova estirpe e um novo conceito de decência e atitude comunitária.

Vai ser duro, mas é melhor do que estar roubando.


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