terça-feira, 15 de junho de 2010

Atravessando o Rubicão

Em minha defesa, devo dizer antes de tudo que não apoio a violência e tenho alma de pacifista, o que não significa ser entreguista. Dito isso passemos aos fatos e as coisas da história.

Recentemente tivemos a desastrosa ação das forças de defesa israelense no navio de bandeira turca. Mais que as baixas, me entristece a burrice. É normal torcer pelo Zorro, que personifica o fora da lei, apenas por querer tomá-la em suas mãos e penalizar o Sargento Garcia, representante da ordem. Deveria haver outro caminho, outra forma de fazer valer a letras das leis internacionais. Dentre os inúmeros textos de crítica e apoio não achei nada que tocasse o cerne da questão, qual seja a natureza belicosa do homem, esse, uma experiência divina que não deu certo.

Poderia citar aqui os relatos de um tal Samuel Clemens, que o mundo literário imortalizou como Mark Twain, sobre suas viagens pela Europa, Havaí e Oriente Médio em 1867, no livro “The Innocents Abroad”, descrevendo a terra onde hoje é Israel como um local deserto, inabitado, onde se via eventuais beduínos e por onde se viajava dias sem cruzar com viva alma. Raras eram as aldeias e com poucas dezenas de pessoas. Seria possível dissertar por horas para apontar os direitos de cada qual por aquele pedaço de terra. Refreio porém meu impulso.

Conta-se que certa vez um representante de Israel ao discursar na ONU, iniciou dizendo que Moisés ao se banhar no rio, deixara suas roupas as margens e que ao voltar não mais as viu. Praguejou – tinha que ser aquele palestino... no que de imediato reagiu o líder palestino – Calúnia, calúnia, nesta época nem existiam palestinos! Pois é, disse o israelense, é daí que quero começar minha história.

Quem não aguenta o tranco, não se aventura. No início do ano 49 AC, Júlio César, querido entre os romanos e idolatrado por seus comandados, percebendo manobras do Senado para deixá-lo de fora e enfraquecê-lo politicamente, tomou a decisão de atravessar o limite permitido pela legislação de então, o rio Rubicão, e conquistou Roma em uma marcha. Teria dito “Alea jacta est” - a sorte está lançada - segundo os escritos, o que eu não acredito muito. Deve sim ter vomitado um sem número de impropérios. Mas essa é outra história. O fato é que tomada uma decisão, tem se que arcar com as conseqüências.

Leio que outra embarcação, essa vindo do Irã, dirige-se para Gaza a fim de furar o bloqueio e criar mais um embaraço político. Porque não seguem pelo Egito? Porque lá, seus pares, a Irmandade Muçulmana, assassinos de Sadat não são bem vindos, mas sim reprimidos pelo governo com mão de ferro. E bota ferro nisso! Não acho que sejam Césares, não aguentam o tranco e não têm nada a ver com o Zorro.

Não trago na manga qualquer solução que não seja a negociação civilizada e aqui começam os primeiros problemas. Alguns daqueles que deveriam ser os interlocutores não podem ser classificados sob essa ótica.

Como não sou dado a orações só me resta torcer para que as próximas manobras primem mais pela inteligência do que pela força, afinal Alea jacta est.

2 comentários:

  1. Parabéns, Arnaldo! Muito oportunas as suas reflexões sobre este tema tão complicado. Bem vindo ao mundo dos blogueiros! Quando tiver um tempinho, venha me visitar no meu blog também:http://monipin.blogspot.com/ Beijos!

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  2. Mas quanta eloquência doutor!
    Gostei da análise histórica e do sarcasmo, principalmente com os Romanos...

    Só acho que vale lembrar que, existem maneiras e maneiras, tanto de "resistir", como de "controlar". Mas com os ânimos exaltados, tudo vira caos.

    Eu também não rezo, mas torço para que que a generosidade impere de ambos os lados, tanto no coração do Zorro, como no do Sargento Garcia.

    Beta

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