sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dilemas de uma moça de Kartoum

A Primavera Árabe esperou que um verdureiro tunisiano desse a bandeirada de largada para o que está sendo considerada uma nova era do renascimento, desencadeada por causa de uma simples tentativa de extorsão em um país onde a lei e o bom senso não são traços comuns. Quem poderia imaginar poderosos impérios caindo como um castelo de cartas, pesadamente como uma jaca putrefata?

Não se esperava que tudo mudasse assim tão rápido nas mentes radicais que insistem em se abrigar na era paleozóica da moralidade. Ainda hoje no Afeganistão, a vítima de um estupro cumpre pena pela prática de sexo fora do casamento. Um tema que faria a festa nas mãos de cineastas comediantes italianos dos anos 60-70. Mas é uma triste verdade que mancha a honra da raça humana e com a qual não se pode coadunar.

Nas Arábias, nas Rocinhas ou nos Congressos surge uma questão de ordem, diante dessa ameaça que é o clamor de liberdade e justiça. Mas o que vem depois é melhor? Fará melhor? Fará diferente? Isso me traz lá do fundo da memória uns versos que tinham por fim ser um método mnemônico das expressões inglesas. Diz assim:

There was a lesbian girl from Kartoum
That took her palsy up to her room
Before turning off the lights she said
Who will do, with what and to whom?


Não queriam os manifestantes da Praça Tahir, a participação de entidades políticas ou religiosas, pois que deveria ser uma expressão da aspiração de mudanças das questões humanitárias. Precisavam de alguém para fazer alguma coisa por pessoas sem rosto.

Mas grupos politizados, policiados e ditos sagrados aguardaram apenas seu tempo. Hoje, os militares cuja função precípua deveria ser a proteção do país e seu povo, se arvoram como opção de governo, aliás, exatamente como iniciou a ditadura que acaba de ser apeada. A Irmandade Muçulmana tem tido mais adeptos do que ela mesma imaginara ter. Se a humanidade não fizer algo é possível que se caia em outro sono profundo antes de renascer.

Não se pode dizer que o futuro de Assad é incerto. No momento é das coisas a mais certa. Mas e o Lupi? Era certo também. Como a vítima afegã do estupro, o conselho de ética é que foi questionado. Juízes do STF discutem o sexo dos anjos enquanto os fichas sujas são julgados por Renans e Sarneys, encarnações do mal na terra. Funcionários de gabinete de políticos e representantes da comunidade são homens de negócios....de armas restritas ou não, isso pouco importa, prisões de segurança máxima são escritórios de traficantes.

E Israel com isso? Onde entra a moça de Kartoum no cenário israelense. É um país que não pode perder o trem da história, fazendo agora a opção certa de quem são seus parceiros. É hora de deixar de lado um passado de guerra e se entender com quem possa ser seu verdadeiro interlocutor. Essa é a chave e é preciso ter visão para identificar os grupos certos, mesmo porque se tem algo de certo, é que Israel vai ouvir falar de quem assumir o poder nas aldeias das Arábias.

Em cada canto, quem virá será melhor? Teremos no Congresso e nas Praças Tahir uma verdadeira mudança de paradigma ou simplesmente verdadeiros substitutos. Vai sobrar alguém entre as Sodomas e Gomorras, ou vamos despirocar como a pobre moça de Kartoum?

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